
O aumento de candidaturas criadas por algoritmos está levando o RH a revalorizar práticas mais humanas para identificar talentos reais.
Há algum tempo a inteligência artificial deixou de ser uma promessa futurista para se tornar parte do cotidiano de candidatos a vagas de emprego e empresas. Entre os campos mais impactados, o recrutamento ganhou destaque: hoje, com poucos cliques, é possível criar um currículo impecável, escrever uma carta de apresentação persuasiva e até treinar respostas para entrevistas — tudo com apoio de algoritmos.
Esse movimento trouxe eficiência para os profissionais que buscam oportunidades, mas também um novo desafio para o RH: como distinguir candidatos realmente qualificados em meio a uma enxurrada de aplicações criadas ou polidas por IA? A resposta, curiosamente, tem sido resgatar algo que parecia estar ficando para trás: o contato humano.
O boom dos currículos gerados por IA
Plataformas de IA generativa são capazes de organizar informações, inserir palavras-chave estratégicas e até inventar experiências que nunca existiram. Relatórios recentes apontam que cerca de 40% dos candidatos já usaram IA para preparar seu currículo, enquanto 25% aplicam para vagas em massa usando essas ferramentas.
Isso, é claro, gera consequências diretas para os recrutadores. Além do volume cada vez maior de candidaturas, cresce também o número de currículos com informações irreais ou infladas. Em muitos casos, os documentos parecem perfeitos demais, mas não refletem a trajetória ou as habilidades verdadeiras do candidato.
O resultado é um funil de seleção sobrecarregado. Em algumas áreas, o tempo gasto somente para filtrar candidatos irrelevantes já chega a vários dias por vaga, tornando o processo caro e pouco eficiente.
A resposta das empresas: de volta ao humano
Diante desse cenário, muitas empresas estão apostando em uma espécie de “retrocesso” proposital. Se a primeira onda de transformação digital trouxe automação, entrevistas gravadas e triagens automáticas, agora cresce a tendência de re-humanizar etapas do processo seletivo. Entre as práticas que vêm ganhando espaço estão:
- Entrevistas presenciais ou síncronas: mesmo em posições remotas, empresas voltaram a priorizar o contato ao vivo para avaliar comunicação, espontaneidade e autenticidade.
- Testes supervisionados: candidatos são convidados a resolver problemas ou estudos de caso em tempo real, geralmente por videoconferência, garantindo que as respostas não dependem exclusivamente da IA.
- Desafios comparativos: algumas empresas aplicam duas etapas distintas — uma onde o uso da IA é permitido e outra em que é proibido — para avaliar tanto o domínio técnico quanto a capacidade de adaptação.
Esse retorno ao “olho no olho” não significa abandonar a tecnologia, mas sim criar mecanismos para que a experiência, o julgamento crítico e as soft skills do candidato fiquem em evidência.
Aliás, essa busca por humanização não é exclusiva do RH. Setores como saúde, educação, atendimento ao cliente e até marketing também vêm resgatando práticas mais pessoais para evitar distorções causadas pelo uso indiscriminado da IA. A tendência é clara: quanto mais os algoritmos se sofisticam, mais cresce o valor das interações autênticas entre pessoas.
O futuro do recrutamento: equilíbrio entre humano e IA
Se por um lado cresce a humanização, por outro a IA não deixará de fazer parte do recrutamento. Para as empresas, ela seguirá essencial na triagem inicial de currículos, na checagem de dados e na análise de competências técnicas. Para os candidatos, continuará sendo uma aliada útil na hora de estruturar informações ou revisar textos.
O ponto central é pode ser o equilíbrio entre eficiência tecnológica e interações humanas, para gerar processos mais ágeis e, ao mesmo tempo, mais assertivos. Já os profissionais que utilizarem IA de forma transparente e ética tendem a se destacar, mostrando que sabem usar a tecnologia sem abrir mão da autenticidade. Afinal, que está em jogo não é escolher entre humano ou algoritmo, mas garantir que ambos colaborem para um recrutamento mais justo e eficiente.
Não há dúvidas de que o boom de currículos gerados por IA transformou o recrutamento em um campo de tensões entre eficiência e autenticidade. E a resposta das empresas tem sido clara: revalorizar práticas mais humanas para diferenciar candidatos de verdade de perfis artificiais.
E esse movimento é parte de algo maior. Em praticamente todas as áreas, cresce a percepção de que não basta automatizar processos, é preciso manter o humano no centro. No fim das contas, a base de contratar, educar, atender ou cuidar continua sendo construir relações de confiança. E isso permanece sendo, inevitavelmente, uma tarefa humana.